quinta-feira, 24 de abril de 2014

Rio Grande do Sul é exemplo no combate a violência contra mulheres

Estado criou Patrulha da Lei Maria da Penha, Observatório de dados, ampliou número de delegacias especializadas e ganhou elogios do governo e prêmio do BID

"Uma vez ele me mordeu. Fiquei chateada. Ele disse que era
para me marcar", diz uma vítima de violência
Com iniciativas como a Patrulha Maria da Penha, o Observatório de dados e a ampliação da quantidade de delegacias especializadas, o Estado do Rio Grande do Sul tem se tornado exemplo quando o assunto é política de prevenção e enfrentamento da violência contra a mulher, segundo Aparecida Gonçalves, secretária responsável por esse setor da Secretaria de Políticas para Mulheres, do governo federal.
“Cada Estado tem uma realidade, tem Estado que a delegacia fecha às 13h. Falta uma cultura, falta mudança de comportamento e cultura do Estado e das pessoas. Falta maior investimento em segurança pública, faltam serviços especializados, juizados, delegacias [da mulher]. Não chegamos a ter isso nem em 8% dos municípios. Falta mudar comportamento e cultura, falta a Lei Maria da Penha funcionar no País inteiro", afirma.
De acordo com ela, essa mudança de comportamento está vindo do sul. As ações que vêm sendo desenvolvidas no Estado desde 2011 foram elogiadas por ela, em entrevista ao iG.
Segundo a chefe de gabinete da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Rio Grande do Sul, Raquel Arruda Gomes, o Estado diminuiu os índices de violência contra as mulheres após 2011, quando a SSP passou a fazer o levantamento dos números da violência.
“Não tinha esse tipo de dados. Após um pedido da assembleia legislativa percebemos que teríamos que dar uma resposta para a sociedade. Pegamos as ocorrências policiais uma a uma e criamos o observatório. Em 2011, eram aproximadamente 40 mil ameaças, 27 mil lesões corporais, 1.300 estupros e 100 femicídios, que são mortes anunciadas. O marido ameaça, insulta, bate e só depois mata. Um trabalho que se pode fazer a prevenção”, disse.
De acordo com um levantamento do governo gaúcho que analisou os assassinatos de mulheres em função do gênero, os femicídios, cometidos entre 2006 e 2011, a metade (50,4%) dos casos tem como autor o atual marido ou companheiro; 25,5% são cometidos por ex-companheiros ou ex-maridos; e em 83,48% dos casos, o assassinato ocorre na residência da própria vítima. O estudo apontou ainda que em 41,7% desses casos já havia registros de outros delitos que antecederam o homicídio.
Segundo Raquel, isso acontece porque as delegacias especializadas no atendimento à mulher trabalhavam isoladas do Judiciário e não tinham apoio de outras esferas do próprio governo. “Após a delegada pedir a autorização da medida protetiva [que impede que o agressor se aproxime da vítima], não sabíamos se ela tinha sido autorizada. Não tínhamos acesso aos dados da Justiça. Além disso, não tinhamos garantias de proteção e não havia rede que pudesse complementar ao serviço da delegacia e monitorar o cumprimento das medidas protetivas. Por isso, entramos em contrato com o judiciário e conseguimos acesso aos dados”, explicou.
Esse, segundo ela, foi o primeiro passo para fazer o diagnóstico dos números da violência no Estado e criar uma forma de proteger a mulher que já procurou uma delegacia especializada, já denunciou o agressor e mesmo assim, é agredida novamente ou até mesmo assassinada.
Assim foi criada a Patrulha Maria da Penha, com equipes da Brigada Militar destacadas para visitar periodicamente vítimas de agressão e garantir que as medidas protetivas sejam cumpridas. A princípio foram criadas quatro equipes apenas na capital, Porto Alegre. Hoje são 13 (também em outras cidades) e a expectativa é que sejam criadas mais 20 equipes até o fim do ano.
Outra frente importante, segundo Raquel, foi a criação das salas Lilás, em 13 Institutos Médicos Legais (IML) do Estado, voltadas exclusivamente para mulheres.
"As mulheres são mais de 70% dos atendimentos dos postos médicos legais, mas não tinham um olhar para ela. Quando elas tinham que procurar o serviço, ficavam até na mesma sala do agressor. Havia também problema na coleta de material, no caso do estupro, e não havia padronização no procedimento, o que trazia prejuízo para identificar a autoria”, diz.
Mas o trabalho não pode ser voltado apenas para mulher, tem que envolver a sociedade e o agressor, diz ela. Por isso, o Estado, por meio da Coordenadoria Penitenciária da mulher, também oferece um trabalho de combate a reincidência, com conscientização no presídio e monitoramento após do agressor ser solto.
As iniciativas foram reconhecidos pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) neste ano, que premiou o Estado na categoria ‘Governante: A Arte do Bom Governo’.
Além do prêmio, o Estado vem vendo os números da violência contra a mulher caindo. Segundo dados do governo, o número de femícidios, caiu de 102, em 2012, para 92 no ano passado, os estupros caíram de 1.331 para 1.162, lesão corporal tiveram queda de 27.145 para 25.964 no ano passado.
Outros Estados
Apesar das quedas no número de violência no Rio Grande do Sul, Aparecida Gonçalves, do governo, diz que, no geral, o Brasil ainda está muito atrasado em relação ao tema. Estados, como Alagoas, que ela definiu como “complicado”, por ter uma rede de atendimento à mulher vítima de violência frágil, e o Espírito Santo, por concentrar a maior quantidade de assassinatos de mulheres em proporção ao número de habitantes do País, segundo o Mapa da Violência, são lugares que demandam bastante atenção por parte dos governos.
No Espirito Santo, segundo o Mapa da Violência- Homicídio de Mulheres no Brasil, de 2012 (o mais recente),175 mulheres foram mortas em 2010 - taxa de 9,8 assassinatos para cada 100 mil habitantes. De acordo com Leonor Araújo, subsecretária de Movimentos Sociais da Casa Civil do Espirito Santo, 60% desse total foram causados por violência doméstica. “É um crime difícil [de combater] porque o acesso é difícil e a polícia não pode interferir diretamente, a não ser que tenha uma denúncia”, disse. Segundo ela, a própria vítima de violência não denuncia por medo do agressor, que na maioria das vezes é o marido (ou companheiro), por uma “questão cultural”, que favorece o machismo, por dependência financeira, e por desconhecimento em relação aos próprios direitos.
“As causas [para o medo de denunciar a agressão] geralmente são a falta de qualificação profissional, que causa a dependência financeira, e faz com que ela fique em um casamento violento. Ela também tem medo de se separar do marido e perder a guarda dos filhos. A pouca informação contribui para violência. A mulher não sai desse ciclo e não denuncia. Quando ela chega na delegacia, está há anos sofrendo violência”, diz Eleonor.
Ela admite que o Estado tem políticas frágeis de combate à violência contra a mulher (inclusive no levantamento de dados sobre o assunto) e que a cultura “predominantemente machista do capixada” favorece o grande número de assassinatos de mulheres. Mas diz que está o Estado está trabalhando para ampliar a rede de proteção às vítimas.
“Estamos ampliando o número de delegacias especializadas, qualificando policiais para trabalhar com esse tipo de público, criando um centro especializado para atendimento à mulher vítima de violência, que deve ser inaugurado até novembro, com psicólogos, assistentes sociais, pedagogos e cientistas sociais, além de um trabalho com os homens agressores em dois presídios do Estado”.
Em Alagoas, também citado pela representante do governo, segundo colocado no ranking de Estados com mais mortes de mulheres, 134 mulheres foram assassinadas em 2010 (8,3 para cada 100 mil habitantes).
De acordo com Solange Albuquerque Viegas, superintentende de Promoção dos Direitos e de Politicas para Mulheres da Secretaria de Estado da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos, 70% dos assassinatos de mulheres são em decorrência da violência domestica e 30% são em decorrência do envolvimento com tráfico de drogas e por causa da violência urbana, como assaltos e balas perdidas. Ela diz que o Estado vem trabalhando uma mudança de mentalidade das próprias mulheres para que elas denunciem a violência sofrida.
“Precisamos de mais campanhas informativas e educativas. Em março fizemos uma na televisão com inserções por uma semana. O objetivo é trabalhar junto às mulheres para que elas sejam menos violentadas e que elas denunciem. Nossa perspectiva é que dimunua o número de mulheres violentadas e que eliminemos o número de mulheres mortas neste contexto”, diz.
Violência contra a mulher no Brasil
Segundo o Mapa da Violência 2012 - Homicídios de Mulheres no Brasil, de autoria do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, o País é o sétimo no ranking mundial de assassinatos de mulheres, com uma taxa de 4,4 homicídios em 100 mil mulheres.
Ainda de acordo com o estudo, que analisou 70.270 ocorrências de violência contra mulheres registradas no Sistema Nacional de Atendimento Médico (Sinan) em 2011, a maior parte das ocorrências (71,8%) acontecem dentro da casa da vítima. O estudo indicou que o conjuge foi o autor em 27,6% dos casos de agressão. Esse percentual sobre para 49,3% das ocorrências, no caso de mulheres entre 30 e 39 anos que sofreram agressão física em 2011.
Além disso, o estudo indicou que a violência física é prepoderante, englobando 44,2% dos casos. A psicológica ou moral representa 20,8% dos casos, enquanto a violência sexual é responsável por 12,2% dos atendimentos.


Fonte: Por Ana Flávia Oliveira - iG São Paulo 

terça-feira, 15 de abril de 2014

Diário de Garupa: Uruguaiana

                        
O Secretário da Segurança Pública, Airton Michels,
 
tem a honra de convidá-lo (a) para a apresentação da Rede de Atendimento da Segurança Pública para o Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar, dia 16 de abril de 2014, às 9h,
no Salão Nobre da Prefeitura, Rua XV de Novembro, 1882, bairro Centro,
Uruguaiana/RS.

Traje: Passeio                                                                                                                             R.S.V.P                                                                                                                                         

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Encontro de formaçao de conselheiras dos direitos das mulheres em Porto Alegre
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Diário de Garupa- Pelotas

Confira matéria do Jornal do Almoço sobre a apresentação da Rede de Atendimento da Segurança Pública para o Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar em Pelotas.

http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/jornal-do-almoco/videos/t/pelotas/v/pelotas-vai-contar-com-uma-rede-integrada-de-atencao-da-mulher/3245524/


Diário de Garupa- Alvorada

Segurança Pública fortalece ações de enfrentamento à violência doméstica em Alvorada

A Rede de Atendimento da Segurança Pública para o Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar será apresentada nesta sexta-feira (11), em Alvorada. Será às 10h, no Salão Nobre da Prefeitura Municipal (Av. Presidente Vargas, 2266, Centro). O evento ocorrerá em todas as cidades onde será implantada a Patrulha Maria da Penha.
Representantes da Secretaria da Segurança Pública (SSP), Brigada Militar, Polícia Civil, Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) e Instituto-Geral de Perícias (IGP) falarão sobre o papel de cada um dentro do fluxo de atendimento às mulheres vítimas de violência. Participam organismos municipais de políticas para as mulheres, prefeituras, Ministério Público, Judiciário, Defensoria Pública, conselhos municipais, servidores e servidoras da segurança pública. 
Alvorada recebeu a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) em março deste ano, sendo um dos seis municípios contemplados com o serviço desde 2011.
A Rede:O projeto da SSP, que integra a Rede Lilás, acompanha as Medidas Protetivas de Urgência solicitadas ao Poder Judiciário por mulheres vítimas de violência doméstica. A Brigada Militar (BM), Polícia Civil (PC), Instituto-Geral de Perícias (IGP) e Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) trabalham juntas. A atuação ocorre desde o registro da ocorrência até a prisão e soltura do agressor. Mesmo com liberdade concedida, o Estado permanece com a vigilância, garantindo a segurança da vítima.
Patrulha Maria da Penha:a Brigada Militar fiscaliza o cumprimento da Medida Protetiva de Urgência. A Patrulha (com viaturas identificadas e PMs capacitados) faz visitas regulares à casa da mulher e presta o atendimento necessário no pós-delito. Se necessário, a encaminha para uma casa-abrigo, atendimento em saúde, entre outros.
Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher:são 18 DEAMs no Estado e 20 postos policiais especializados, sediados dentro das delegacias comuns. As delegacias fazem o atendimento, registram as ocorrências, orientam e encaminham as medidas protetivas ao Poder Judiciário. 
Sala Lilás:o projeto do Instituto-Geral de Perícias é um espaço especializado, junto ao Departamento ou Posto Médico-Legal, para as mulheres vítimas de violência. O local oferece atendimento médico, psicológico e social, logo após o crime.  Antes, as vítimas ficavam expostas ou até mesmo junto aos agressores durante a espera para exames. Pensando nas vítimas de estupro, que têm de deixar peças de roupa para exame de DNA, a Sala Lilás também oferece um kit com roupas íntimas.
Projeto Metendo a Colher: projeto da Coordenadoria Penitenciária da Mulher, da Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe), visa o combate aos casos de reincidência na violência contra a mulher. A ideia é conscientizar os agressores enquadrados na Lei Maria da Penha de que a segurança pública irá monitorá-los, mesmo em liberdade, além de educá-los para que não voltem a agredir. Ao saírem da cadeia, os homens continuarão com o acompanhamento de uma rede externa - Patrulha Maria da Penha, Escuta Lilás, Poder Judiciário, Ministério Público, entre outros, que trocarão informações em tempo real. Para as vítimas, a Secretaria da Segurança Pública proporciona cursos para conclusão dos estudos e também profissionalizantes. O projeto é pioneiro no Brasil, existindo um nos mesmos moldes somente na Espanha.
Observatório da Violência contra a Mulher: dentro de todo o universo de ocorrências policiais, o setor trabalha com enfoque em ameaça, lesão corporal, estupro, femicídio (quando há envolvimento afetivo entre a vítima e o agressor) consumado e femicídio tentado. Os índices são atualizados diariamente e as informações são repassadas todas as semanas para a Brigada Militar, Polícia Civil, Instituto-Geral de Perícias e Susepe. É a primeira vez que se faz esse tipo de levantamento de gênero no Brasil, com ações conjuntas e transversais, em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres.
Texto: Patrícia Lemos
Edição: Redação Secom (51) 3210.4305

Diário de Garupa- Bento Gonçalves

Assessora de Gabinete da SSP, Anita Kieling, destaca que a apresentação da Rede de Atendimento visa aprimorar o fluxo de informações e de trabalho entre os diferentes órgãos que agem no combate à violência contra a mulher.

Secretaria da Segurança Pública fará curso de defesa pessoal para mulheres

08 de Abril de 2014 às 17h59min
Curso deve começar em agosto para mulheres dos Territórios de Paz
Curso deve começar em agosto para mulheres dos Territórios de Paz - Foto: Patrícia Lemos
Um curso de defesa pessoal para mulheres identificarem situações de risco foi proposto pela socióloga e feminista Lícia Peres para a Secretaria da Segurança Pública. Na reunião, nessa segunda-feira (07), Lícia explicou que seriam abordadas formas de prevenção e reação para preservar ao máximo a integridade física e emocional em casos de qualquer tipo de violência. A previsão é que a capacitação de 40 horas – inicialmente para 120 mulheres dos Territórios de Paz de Porto Alegre – comece em agosto.
“A intenção é que, com conhecimento dos riscos e adoção dos procedimentos de segurança pessoal, se dificulte a ação do agressor e não cheguem à condição de vítimas”, esclarece Lícia, que também é a integrante da Câmara Temática da Segurança Pública do Cdes – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do RS. Conforme a chefe de gabinete e coordenadora das políticas para as mulheres da SSP, Raquel Gomes, já foi constituído um grupo de trabalho para a implantação do projeto. “Temos que agir em duas frentes: na punição dos criminosos, mas também na prevenção, com ações como essa”. Conforme Raquel, o curso também informará a que órgãos as vítimas devem recorrer em cada tipo de crime.
Integram o grupo de trabalho representantes da SSP, Brigada Militar, Polícia Civil, Instituto-Geral de Perícias, Superintendência dos Serviços Penitenciários e representantes do movimento de mulheres. “Queremos promover o empoderamento para que elas não se sintam culpadas em nenhuma situação, principalmente em casos de estupro”, reforça Raquel. As aulas serão com especialistas da segurança pública em defesa pessoal e direitos humanos.

Texto e foto: Patrícia Lemos
                                   
O Secretário da Segurança Pública, Airton Michels,
 
tem a honra de convidá-lo (a) para a apresentação da Rede de Atendimento da Segurança Pública para o Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar, dia 30 de abril de 2014, às 9h,
na Câmara Municipal de Vereadores, Rua Comandante Salomoni, 21, bairro Centro,
Erechim/RS.

Traje: Passeio                                                                                                                                R.S.V.P                                                                                                                                                           

Diário de Garupa- Apresentação da Rede de Atendimento da Seurança pública para o Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar- Patrulha Maria da Penha

                                   
O Secretário da Segurança Pública, Airton Michels,

 
tem a honra de convidá-lo (a) para a apresentação da Rede de Atendimento da     Segurança Pública para o Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar, dia 16 de abril de 2014, às 9h,
no Salão Nobre da Prefeitura, Rua XV de Novembro, 1882, bairro Centro,
Uruguaiana/RS.
Traje: Passeio                                                                                                                                R.S.V.P                                                                                                                                                           

quinta-feira, 3 de abril de 2014

A pesquisa do IPEA "Tolerância social à violência contra as mulheres"

    O problema não é o decote, é o poder.Mais do que revelar um quadro de crenças confusas, a pesquisa aponta um quadro de tolerância macabra com a violência contra as mulheres.
A pesquisa do IPEA "Tolerância social à violência contra as mulheres" revela um quadro macabro sobre a disposição delinquente de abusar mulheres, no Brasil. Pesquisas baseadas em sistema de indicadores de percepção têm por objeto um conjunto necessariamente vago e confuso de crenças, desejos, conhecimentos mais ou menos refletidos e quase nunca científicos; a percepção é um pântano, algo necessariamente obscuro. Valem como uma fotografia borrada. Ainda assim, a pesquisa tem questões muito claras e respostas idem.
Para a maioria dos brasileiros, se usamos decote é porque merecemos ser violadas, e isto é mais grave, também devemos obedecer aos machos, dentro de casa. Como toda sociedade é, por definição, entre outras possíveis, um balaio de crenças contraditórias e calamitosas entre si, a maioria defende que o marido abusador deve ser punido. A tolerância com o abuso é que se destaca: que tipo seria o caso, para merecer a denúncia numa delegacia, já que a maior parte acha que os conflitos conjugais devem ser resolvidos dentro de casa? Ora, dentro de casa, diz a mesma pesquisa, quem manda é o homem. O corolário do convite ao estupro com base no decote é trivial.
O problema do machismo é que ele é uma propriedade, não um traço de caráter. Como propriedade, é uma característica cultural que atravessa as classes, gêneros, idades, graus de instrução. O que define o machismo é a crença segundo a qual os machos detém algum poder natural e, portanto, legítimo, sobre as fêmeas e que, isto é o grave, este poder antecede e vigora a despeito da lei. Se tomamos a definição elementar de fascismo como a crença e a defesa normativa da força sobre a razão ou da força sobre a lei, poderíamos tratar o machismo como um caso, uma variante privada e macabra, do balaio irracional da violência fascista, isto é, das autorizações auto-impetradas ao arbítrio.
     Mas o problema do machismo é que ele é mais sutil; é impregnado de afetividade (transmite-se sobretudo pelas famílias) e aí está o poder de sua vigência. Isso explica, entre outras coisas, como pode haver uma ordem democrática que elege uma mulher como presidenta e segue tratando o aborto como crime. Assim, mais do que revelar um quadro de crenças confusas, a pesquisa revela um quadro de tolerância macabra com a violência contra as mulheres. O problema não é o decote; o problema é o poder: quem manda e deve mandar é o macho.

     A pesquisa do IPEA mostra com clareza o que todo mundo, sobretudo mulheres, sabem e vivem: a violência contra nós começa, sempre, na família. E na infância e na adolescência. Os dados são dilacerantes porque os registros dos números de estupros sempre são índices precários, desses levados pelos vizinhos de parede às delegacias. A violência machista atravessa as classes e as classes mais abastadas não frequentam delegacias. A polícia é para os pobres, até mesmo no quesito protetivo.

     É assim que vigora, em vários estados brasileiros, uma espécie de 'série b', clandestina, dos registros relativos a delitos previstos na Lei Maria da Penha. Essa ?série b? contêm os delitos cometidos por homens com acesso aos sistemas de registros de informações criminais, isto é, policiais, militares, juízes, advogados, promotores, oficiais de justiça, desembargadores. As delegadas e os delegados sérios, que operam com essa 'série b' de registros, têm em mãos o que nunca se conta nem contará, mas asseguram, ainda assim e segundo o alcance de uma igualmente paralela rede de confiança intraestamento, uma rede protetiva institucional e, para todos os efeitos, legal, reconhecida e de reconhecimento das vítimas.

      Esta 'série b' não tem como habitar pesquisa alguma. Ela existe, simplesmente, não se sabe por quanto tempo vigorará, ainda. Vai sem dizer o quanto a existência dessa linha oculta de investigação e registro é fator de enfraquecimento das denúncias e da mudança de tratamento do problema.     A sua inclusão, como índice, numa pesquisa como a recentemente publicada pelo IPEA, poderia revirar o estômago de muito mais gente. E poderia tanto que não pode. O machismo assim segue vitorioso.

       A maioria que quer que o espancador da mulher seja punido sabe que espancar, pode imaginá-lo ou percebê-lo, é errado. Isso não explica tolerância ou intolerância com o machismo. O que explica o machismo são os outros dados, esses sim, capturados na pesquisa, que apresentam um conjunto mais coerente e coeso de crenças que antecedem e condicionam as condutas e que não requerem, no próprio domínio perceptivo, uma agressão imaginada, como se pôde, desgraçadamente, inferir. Essas crenças se referem nas vestimentas das mulheres, na autonomia e na expressão das mulheres, na capacidade de exercício do poder e na legitimidade desse exercício. Aí, sim, o que é macabro se mostra deprimente, pedagogicamente deprimente.

      A pesquisa nos ensina por que seguimos ganhando menos e precisando de cotas, quando somos maioria na população. Ajuda a entender o quadro de ansiedade e de sofrimento mental que assola as meninas adolescentes, alvos do crime organizado em que se converteu a propaganda e o abuso da imagem das crianças e adolescentes (um país em que criança vende cartão de crédito, inclusive de banco estatal, deveria sentir vergonha perante si mesmo). E nos mostra como pode haver milhares de mortes, por ano, em curetagens que deram causa a choques sépticos, de mulheres sem amparo material para interromperem gravidez indesejada. É claro, há o fator religião, que incide não por acaso nas células familiares e explica, com nitidez superior a qualquer pesquisa de percepção, as cláusulas de silêncio avessas a quaisquer registros abertos.

      Há no entanto um dado que, se não é hierarquicamente estabelecido nem capturado na investigação, condiciona vários outros da pesquisa e da vida. Trata-se da afirmação relativa ao poder. A maioria dos entrevistados considera que os machos têm de ser os 'chefes de família'. Esse é, de longe, o dado mais assombroso. Ele é intuitivo - trata-se de uma pesquisa de percepção - numa sociedade em que a maior parte das famílias beneficiadas por programas de transferência de renda são dirigidas por mulheres, em que as mulheres são maioria e em que mulheres movimentam e dirigem a maior empresa do país e o país ele mesmo. É um dado que torna a Dilma uma espécie de anomalia político-institucional, quando deveria ser o dado ele mesmo a anomalia. Por que é que elegemos uma mulher e seguimos acreditando que quem deve mandar é o homem?
     
       Quando Dilma Rousseff assumiu a presidência, montou um ministério cheio de mulheres. O tratamento midiático e político - oriundo das forças políticas partidárias, da esquerda à direita - desses quadros de mulheres é um caso de polícia. Há duas exceções, que assim se constituem, salvo melhor juízo, pela expressividade diminuta durante a gestão do governo. São quadros que, quando menos aparecerem, melhor para todos, afinal, trata-se do planejamento e do meio-ambiente. As tentativas de desmoralização, depreciação, humilhação, deboche, desrespeito e abuso, sobre todas as outras, configuram capítulos de inquéritos jamais reduzidos a termo nem encaminhados ao Ministério Público.

     O que a resposta favorável ao convite ao estupro diante de uma vestimenta carrega consigo é uma relação naturalizada de poder. E é essa mesma relação que explica a imensa maioria, senão todas, as críticas abertas ao governo Dilma, por parte da oposição soi disant de esquerda, e da direita. Todos se juntam nas acusações de tom sexista, dessas que toda mulher fora da curva do juízo da maioria já sentiu, na pele e nas vísceras: expressa-se confusamente (mulher não tem nem pode ter pensamento lógico), é louca, autoritária (mulher tem de ser 'calminha' e tranquila e doce), 'passa por cima de todo mundo' (mulher não pode mandar, diz-nos a maioria), não tem sentimentos, é uma ?engenheira malvada?, que maltrata os índios e destrói tudo (variante do 'é antinatural', é contra a natureza, claro, é mulher, divorciada, presidenta) e, para a galhofa da inteligência de qualquer pessoa alfabetizada, é 'incompetente' e está conduzindo mal o país, economicamente. Confusa, louca, malvada, sem sentimentos, antinatural e incompetente.

Nenhum desses adjetivos cai sob um domínio democrático da Política. O uso de cada adjetivo desses indica o submundo imaginário, afetivo e simbólico que parasita os seus usuários. E ofende a todas nós, apoiadoras ou não, desse governo. Trata-se de uma maneira de nos alijar de um domínio da vida em que as relações de poder estão no centro de todas as decisões. É possível que haja determinações mais ou menos naturais, de poder. Não estamos cientificamente desautorizados a considerar essa possibilidade. Mas estamos racionalmente autorizados a nos desfazer da crença mística e violenta no poder natural dos machos sobre as fêmeas, essa crença medonha que anima as críticas e oferece uma paisagem de ódio e opressão, em ano eleitoral.




Lançada a Rede de Enfrentamento da Violência contra as Mulheres

Em prol da segurança da mulher, dentro da programação do Março Lilás - mês destinado à luta pelos direitos das mulheres - foi lançada na tarde de sexta-feira (29/03) a Rede de Enfrentamento da Violência Contra as Mulheres, no Salão Nobre da Prefeitura Municipal do Rio Grande. Para explicar melhor a ação, estiveram presentes o major Luiz Fernando, a Corregedora do Instituto Geral de Perícia, Andreia Machado, e a Chefe de Gabinete da Segurança Pública Estadual, Anita Kieling.
Lançada a Rede de Enfrentamento da Violência contra as MulheresNo evento, compareceram diversas autoridades estaduais e municipais. A mesa da solenidade foi composta pela chefe de gabinete do prefeito, Darlene Torrada, a corregedora geral do Instituto Geral de Perícias da Secretaria de Segurança Pública do Estado e coordenadora das Salas Lilás no Rio Grande do Sul, Andrea Machado, o chefe da Divisão de Estatística Criminal e coordenador do Observatório da Violência Contra a Mulher, major Luiz Fernando de Oliveira Linch, a coordenadora da Patrulha Maria da Penha, a assessora de direitos humanos da Superintendência dos Serviços Penintenciários (Susepe), Maria José Diniz, a titular da coordenadoria das delegacias especializadas no atendimento à mulher (Deam), delegada Anita Maria Klein da Silva, a delegada da Deam Rio Grande, delegada Caroline De Bem, a assessora do gabinete do secretário de segurança, Anita Kieling, e a vereadora da Câmara Municipal, Denise Marques (PT).
A rede, única existente em todo Brasil, está ativa no Estado desde 2011 e, segundo o major Luiz Fernando, após a iniciativa, os índices de violência contra a mulher reduziram. Procurando proporcionar maior qualidade de vida, a medida conta com quatro ações: patrulha da Brigada Militar, Sala Lilás, Observatório e Coordenadoria da Mulher. Hoje, na cidade do Rio Grande, a Patrulha e a Sala Lilás começam a funcionar. Já o Observatório e a Coordenadoria são medidas presentes em futuros planos do prefeito Alexandre Lindenmeyer, junto com outras instituições.
Para que nenhuma mulher fique fora dos cuidados, os responsáveis utilizam mapeamento em bairros e coleta de dados.  Os tipos de vítima e agressor também são traçados e assim já foi possível detectar que o perfil dessas vítimas é de baixa escolaridade e até 60 anos. Mas não é apenas no momento da violência que as medidas devem ser tomadas. Segundo o Major Luiz Fernando, há pouco se deu início a cuidados mensais com sobreviventes, e assim criou-se um ciclo completo de ações. "O nosso formato, um ciclo completo de prevenção, fez que com que outros estados começassem a debater o assunto", frisou.
Patrulha da Brigada Militar
Mais uma viatura percorrerá as ruas do Rio Grande, mas desta vez auxiliando a Brigada Militar no combate à violência da mulher. A partir de agora, a vítima terá a proteção policial após solicitar a medida protetiva sem precisar esperar pela autorização do judiciário. De acordo com a assessora de gabinete da Secretaria Estadual de Segurança Pública, Anita Kieling, haverá mais confiança para realizar a denúncia "A mulher agora sente-se mais segura, já que as 48h após o ocorrido são as mais críticas".
Sala Lilás
"Um espaço para que a mulher sinta-se protegida", é assim que resume a chefe de gabinete do prefeito, Darlene Torrada, em relação à Sala Lilás. No início da tarde desta sexta-feira (29), no Hospital Santa Casa Do Rio Grande, a sala, uma parceria da Prefeitura Municipal do Rio Grande com o Governo do Estado, foi inaugurada. O local será destinado para o atendimento da mulher que sofrer qualquer tipo de violência.
Esta é a sexta unidade presente no Rio Grande do Sul desde setembro de 2012. A preocupação para criação da Sala Lilás é que, ao chegar em um momento tão delicado, a vítima tivesse que estar no mesmo ambiente que outros homens e sentisse vergonha, muitas vezes nem ficando até o fim do procedimento. O espaço contará com assistência médica especializada, atendimento psicossocial, retrato falado digital, entre outras ações, tudo para garantir a preservação do caso. Segundo Darlene, "o espaço é mais uma ferramenta que une-se a outras  para atuar na prevenção da saúde mental e física da mulher".


Na solenidade de abertura, estiverem presentes representantes da Prefeitura Municipal do Rio Grande, Segurança Pública Estadual, Instituto Geral de Perícia, Brigada Militar, Centro de Perícia Médica Legal, Polícia Civil, Câmara dos Vereadores, Delegacia Estadual de Ajuda à Mulher, Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr., Ministério  Público e secretarias municipais.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Ao falar do golpe militar de 64, em discurso nesta segunda (31), a presidenta Dilma lembrou a criação da Comissão da Verdade, e afirmou que o Brasil aprendeu o valor da liberdade, de Legislativo e Judiciário independentes e ativos, da liberdade de imprensa, do voto secreto, de eleger governadores, prefeitos, um exilado, um líder sindical, que foi preso, e uma mulher também que foi prisioneira:http://goo.gl/7pJ5Zj

A SSP-RS Apresenta a rede de Atendimento da Segurança pública para o Enfrentamento à violência Doméstica e Familiar- Patrulha Maria da Penha.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) começa um ciclo de apresentações pelo Estado para explicar o funcionamento da Rede de Atendimento da Segurança Pública para o Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar. Nesta sexta-feira (28), o encontro será em Pelotas, às 10h, no Auditório do Ministério Público (Rua Vinte e Nove de Junho, n° 80).
 
O evento ocorrerá em todas as cidades onde será implantada a Patrulha Maria da Penha. Em Pelotas, os servidores já estão capacitados e o município deve receber o serviço até o final do ano.
Representantes da SSP, da Brigada Militar, Polícia Civil, Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) e Instituto-Geral de Perícias (IGP) falarão sobre o papel de cada um dentro do fluxo de atendimento às mulheres vítimas de violência. O público-alvo são organismo municipais de políticas para as mulheres, prefeituras, Ministério Público, Judiciário, Defensoria Pública, conselhos municipais, servidores e servidoras da segurança pública. 
 
A Rede
 
O projeto da SSP, que integra a Rede Lilás – coordenada pela Secretaria de Políticas para as Mulheres do RS –, acompanha as Medidas Protetivas de Urgência solicitadas ao Poder Judiciário por mulheres vítimas de violência doméstica. A Brigada Militar (BM), Polícia Civil (PC), Instituto-Geral de Perícias (IGP) e Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) trabalham juntas. A atuação ocorre desde o registro da ocorrência até a prisão e soltura do agressor. Mesmo com liberdade concedida, o Estado permanece com a vigilância, garantindo a segurança da vítima.
 
Patrulha Maria da Penha: A Brigada Militar fiscaliza o cumprimento da Medida Protetiva de Urgência. A Patrulha (com viaturas identificadas e PMs capacitados) faz visitas regulares à casa da mulher e presta o atendimento necessário no pós-delito. Se necessário, a encaminha para uma casa-abrigo, atendimento em saúde, entre outros.
Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher: São 18 DEAMs no Estado e 20 postos policiais especializados, sediados dentro das delegacias comuns. As delegacias fazem o atendimento, registram as ocorrências, orientam e encaminham as medidas protetivas ao Poder Judiciário. 
 
Sala Lilás: Projeto do Instituto-Geral de Perícias é um espaço especializado, junto ao Departamento ou Posto Médico-Legal, para as mulheres vítimas de violência. O local oferece atendimento médico, psicológico e social, logo após o crime.  Antes, as vítimas ficavam expostas ou até mesmo junto aos agressores durante a espera para exames. Pensando nas vítimas de estupro, que têm de deixar peças de roupa para exame de DNA, a Sala Lilás também oferece um kit com roupas íntimas.
 
Projeto Metendo a Colher: Projeto da Coordenadoria Penitenciária da Mulher, da Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe), visa o combate aos casos de reincidência na violência contra a mulher. A ideia é conscientizar os agressores enquadrados na Lei Maria da Penha de que a segurança pública irá monitorá-los, mesmo em liberdade, além de educá-los para que não voltem a agredir. Ao saírem da cadeia, os homens continuarão com o acompanhamento de uma rede externa - Patrulha Maria da Penha, Escuta Lilás, Poder Judiciário, Ministério Público, entre outros, que trocarão informações em tempo real. Para as vítimas, a Secretaria da Segurança Pública proporciona cursos para conclusão dos estudos e também profissionalizantes. O projeto é pioneiro no Brasil, existindo um nos mesmos moldes somente na Espanha.
 
Observatório da Violência contra a Mulher: Dentro de todo o universo de ocorrências policiais, o setor trabalha com enfoque em ameaça, lesão corporal, estupro, femicídio – quando há envolvimento afetivo entre a vítima e o agressor – consumado e femicídio tentado. Os índices são atualizados diariamente e as informações são repassadas todas as semanas para a Brigada Militar, Polícia Civil, Instituto-Geral de Perícias e Susepe.  É a primeira vez que se faz esse tipo de levantamento de gênero no Brasil, com ações conjuntas e transversais, em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres. 
 
Texto: Assessoria SSP
Edição: Redação Secom (51) 3210.4305